Alunos apresentam peça teatral Auto da Barca do Inferno
No dia 26 de agosto de 2015, os alunos do 1ºB do Ensino Médio sob a Coordenação da Prof. Débora, encenaram a peça teatral “ Auto da Barca do Inferno” em comemoração aos 87 anos do IAL.
O Auto da Barca do Inferno (ou Auto da Moralidade) é uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente, representada pela primeira vez em 1517. É a primeira parte da chamada trilogia das Barcas (sendo que a segunda e a terceira são respectivamente o Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória).
Os especialistas classificam-na como moralidade, mesmo que muitas vezes se aproxime da farsa. Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI, embora alguns dos assuntos que cobre sejam pertinentes na atualidade.
Diz-se "Barca do Inferno", porque quase todos os candidatos às duas barcas em cena – a do Inferno, com o seu Diabo, e a da Glória, com o Anjo – seguem na primeira. De fato, contudo, ela é muito mais o auto do julgamento das almas.
O Auto tem uma estrutura definida, não estando dividido em atos ou cenas, por isso para facilitar a sua leitura divide-se o auto em cenas à maneira clássica, de cada vez que entra uma nova personagem. A estrutura é vista pelo percurso cênico de cada personagem, que demonstra as suas ações enquanto "julgado".
Existe um percurso cênico padrão - as personagens começam por se dirigir à Barca do Inferno (que está mais enfeitada, que salta mais à vista), percebem que aquela barca se dirige ao "Arrais infernal" e vão à Barca da Glória. As personagens que não podem entrar nesta barca, voltam à Barca do Inferno, onde acabam por ficar.
Embora o Auto da Barca do Inferno não integre todos os componentes do processo dramático, Gil Vicente consegue tornar o Auto numa peça teatral, dar unidade de ação através de um único espaço e de duas personagens fixas "diabo e anjo".
A peça inicia-se num porto imaginário, onde se encontram as duas barcas, a Barca do Inferno, cuja tripulação é o Diabo e o seu Companheiro, e a Barca da Glória, tendo como tripulação um Anjo na proa.
Apresentam-se a julgamento as seguintes personagens:
· Fidalgo, D. Anrique;
· Onzeneiro (homem que vivia de emprestar dinheiro a juros muito elevados, um agiota);
· Sapateiro de nome Joanantão, que parece ser abastado, talvez dono de oficina;
· Joane, um parvo, tolo, vivia simples e inconsciente dos seus atos;
· Frade cortesão, Frei Babriel, com a sua "dama" Florença;
· Brísida Vaz, uma alcoviteira;
· Judeu usurário chamado Semifará;
· Corregedor e um Procurador, altos funcionários da Justiça;
· Enforcado;
· Quatro Cavaleiros que morreram a combater pela fé.
Cada personagem discute com o Diabo e com o Anjo para qual das barcas entrará. No final, só os Quatro Cavaleiros e o Parvo entram na Barca da Glória (embora este último permaneça toda a ação no cais, numa espécie de Purgatório), todos os outros rumam ao Inferno (ao Judeu, por não se querer separar do bode que levava consigo, não lhe é permitido sequer entrar na Barca do Inferno -- este vai "à toa", ou seja, vai dentro de água, agarrado à barca por uma corda). O Parvo fica no cais, o que nos transmite a idéia de que era uma pessoa bastante simples e humilde, mas que havia pecado. O principal objetivo pelo qual fica no cais é para animar a cena e ajudar o Anjo a julgar as restantes personagens, é como que uma 2ª voz de Gil Vicente.
A presença ou ausência do Parvo no Purgatório quando do fim da peça acaba por ser pouco explícita, uma vez que esta acaba com a entrada dos Cavaleiros na barca do Anjo sem que existissem quaisquer outros comentários do Anjo ou do Parvo sobre o seu destino final.
Bruno Henrique Ferreira
Comunicação e Marketing IAL