Páscoa: para quê?
Quando pensamos na Páscoa, logo nos vem à mente o tema da libertação ou liberdade. De fato, a Páscoa é uma festividade antiga de tradição agrária, que era celebrada pelos israelitas e que, em virtude da libertação da escravidão do Egito ter ocorrido no período da festa, esse sentido foi agregado ao original. No princípio, celebrava-se a Páscoa como agradecimento pela fecundidade dos rebanhos e dos campos maduros.
Todavia, para compreender toda a mensagem que a Páscoa nos traz, podemos olhar para o que vai além dela, olhar para o período subseqüente. A libertação do Egito propiciou que os fugitivos fizessem no deserto um pacto com Deus, pacto esse simbolizado principalmente pela manifestação de Deus para Moisés no monte Sinai, quando, então, Deus transmite o dez mandamentos. Ou seja, a liberdade obtida com a saída do Egito não era para um usufruto descomprometido, pelo contrário, essa libertação fez com que as pessoas assumissem um compromisso com Deus e com o próximo, expresso nos mandamentos.
Já no Novo Testamento, a morte e a ressurreição de Jesus, ocorridas durante o período pascal judaico, são os acontecimentos centrais que marcam a celebração da Páscoa pelos cristãos. Especialmente, a ressurreição de Jesus simboliza a vitória da vida sobre a morte, ou seja, os seguidores de Jesus sentir-se-ão livres de todo poder opressor, pois a morte estava vencida, não era necessário mais temê-la. Esse sentimento de liberdade, daquilo que nos oprime, todavia, não foi algo individualista objetivando um prazer pessoal. Antes, o sentimento de libertação, de liberdade, levou os primeiros cristãos a se comprometerem solidariamente com uma comunidade que dividiria tudo o que tinha. É o que encontramos no livro de Atos, capítulo 2, versos 42 a 47.
Como pudemos ver, a Páscoa, tanto judaica como cristã, está diretamente vinculada a uma libertação que leva a um compromisso; o sentimento de liberdade me dá condiçes de não mais temer os poderes e idéias opressoras que querem me afastar da solidariedade com o próximo.
A festa da Páscoa ainda hoje é celebrada com muita ênfase pelos cristãos. Porém, algumas ideologias são muito fortes em nossa sociedade atual e podem nos fazer desvirtuar do verdadeiro sentido da liberdade que a Páscoa nos oferece. Individualismo, consumismo, hedonismo e competição são alguns dos valores que marcam nossa vida atual e que têm motivado atitudes racistas, preconceituosas e outras posturas etnocêntricas. Certamente esses valores não se coadunam com o sentido da Páscoa. Por isso, antes de celebrarmos essa festa, devemos revê-los para que nossa celebração deixe de ser um momento passageiro de alegria para se tornar um estado permanente de compromisso com a construção de uma sociedade fraterna.
Rev. Wesley Fajardo Pereira
Pastoral Escolar e Universitária