Dia das Mães - 2021
“Mas Deus ouviu o menino chorar. O anjo de Deus chamou Hagar lá do alto: “Hagar, o que aconteceu? Não fique com medo. Deus ouviu o menino e sabe que ele está numa situação difícil. Agora, levante-se, pegue seu filho e abrace-o! Vou fazer dele uma grande nação” (Gn. 21.17-18 – versão A mensagem).
Com o descontrole da pandemia no Brasil e toda a consequência social, econômica, além das questões de saúde, é visível a cada dia o número de pessoas que vão para a rua em busca do sustento e até mesmo de uma calçada para ficar. Este cenário sempre causou dor a minha alma, mesmo quando morava em Cachoeiro do Itapemirim, uma cidade no interior do Espirito Santo. Entretanto, nestes dias essas situações têm se identificado com a minha impotência em resolve-las, ou pelo menos acalentar o coração e a barriga de todas as pessoas que cruzam nosso caminho, quando assim o fazemos ao supermercado, padaria ou farmácia.
Esta semana não foi diferente, seguia para farmácia para comprar o leite do meu filho, quando avistei ali bem perto de mim, uma moça e uma criança da idade do meu Benjamin. Naquele momento minha alma gritou, como a de Hagar ao se deparar com a fome do seu filho. Em meio as lágrimas me aproximei dela e perguntei o porquê de estar ali com aquela menininha tão linda. Beatriz, fez seu relato e nada surpreendente, precisava de um valor para terminar de pagar seu aluguel naquele dia, até que pudesse receber o bolsa família e auxilio emergencial, já que como diarista, não estava conseguindo trabalho. Não podia voltar para o conforto do meu lar sem agir e, assim o fiz. Entretanto, minhas lágrimas não cessaram com a oportunidade que tive naquele momento de ajudar aquela mulher a abreviar seu tempo na rua, meu desejo era que nem ela e nem a moça que encontrei mais adiante precisassem está ali. Enquanto chorava e falava com Deus da minha angústia, em meu coração ecoava a certeza de que naquele momento eu poderia ter sido a resposta de oração daquela mãe.
Hagar foi uma mãe extremamente resistente. Ela resistiu a humilhação, a escravidão, a opressão, ao preconceito e a rejeição. Mas quando percebeu que o alimento estava acabando, que o suprimento de água estava se esgotando, ela se angustiou, a ponto de se afastar do filho pois não desejava vê-lo padecer de fome e sede até a morte. Embora num primeiro momento, como mãe, eu me assuste com a atitude de Hagar, no fundo eu a entendo, como compreendi Beatriz, a luta pela vida de um/a filho/a nem sempre segue por caminhos que achamos mais legais.
Na verdade, seria digno e justo que nem Hagar, Beatriz e tantas outras mulheres precisassem fazer tal escolha. Não é à toa, que o profeta ao falar a respeito do amor de Deus diz: “Porventura pode uma mãe esquecer-se tanto do seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que está se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti” (Isaías 49. 15). O amor maternal é apenas superado pelo amor de Deus. Isso nos mostra o quanto uma mãe pode ser resistente diante da dor de um/a filho/a e acalenta trazendo a memória que Deus nos ama ainda mais. A Hagar, Deus enviou um anjo renovando sua esperança do presente e futuro, a Beatriz eu posso ter sido uma entre outras pessoas que Deus enviou alento e retorno para casa depois de uma manhã desgastante. Quem se chegará a você, mãe cansada e resistente? Ou a quem Deus te enviará? Que possamos reconhecer no caminho a força de Deus que renovar nossa caminhada da vida com esperança de dias muito melhores e, sermos instrumentos da graça a muitas outras mulheres, mães, que continuam resistindo!
Parabéns pelo seu dia!
Reverenda Fabiana de Oliveira Ferreira
Pastoral UMESP