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Somos eternos aprendizes da Vida.

por admin publicado 02/12/2015 15h56, última modificação 03/12/2015 14h30

 


Bem-vindos(as)!

Deus nos abençoe!

O tempo passa muito rápido, já estamos de volta, recomeçando as aulas! Que Deus nos ajude, neste semestre, a sermos mais irmãos e irmãs uns dos outros na escola e na família, para que o mundo se tornem mais justo, fraterno e solidário!

E juntos, possamos colorir o nosso semestre com as cores da paz!

Cores da Paz
Eu tinha uma caixa de cores
Mas não tinha vermelho
Para o sangue dos feridos;
Nem branco para as mãos e
Rostos dos mortos;
Nem tampouco amarelo,
Tinha, entretanto,
Cor laranja para o amanhecer
E o crepúsculo.
O azul celeste
Para os novos céus.
E a cor de rosa
Para os sonhos jovens.
Sentei e pintei a paz.

Poesia escrita por uma criança
de 10 anos - POA/RS. Revista
Voz Missionária , julho-set/
2003.

Para pensarmos juntos:

Somos eternos aprendizes da Vida

O caminho de um mundo habitável para todos os seres passa pela concepção da existência como uma trajetória onde todos/as as pessoas se tornam, permanentemente, eternos aprendizes. Neste percurso a educação se transforma num processo e, o conteúdo do ensino só pode ser o que acontece com e no mundo, onde as açes para a felicidade pessoal e a realização da cidadania coletiva tem como horizonte a compreensão de que 'para aprender o saber e o ensino;

para entender a ciência;

para obter uma ética para a Vida e saber julgar;

para dar aos ingênuos compreensão

e aos jovens consciência e reflexão.
Ouça o sensato e cresça no ensino
e o erudito adquira entendimento,
para ler poesias e metáforas,
com as memórias e afetos dos que tem compreensão da vida!
As palavras de Deus são os princípios para aprender a educação
mas aquele que perdeu a razão e o juízo rejeita ser aprendiz para a Vida!"

(Paráfrase de Provérbios 1.2-7)

 

Ser um eterno aprendiz da Vida é, também, ter a humildade para reconhecer o cuidado que, sempre, temos que ter com a Terra, a nossa casa!
Educar para um mundo habitável é o tema deste segundo semestre de 2003 na nossa escola!
É a preocupação com o mundo para que ele seja um lugar bom, agradável e igualitário, onde os palavras e os gestos das pessoas, de umas para com as outras, seja de felicidade e de cuidado, tendo como sentido a cidadania para todos.

Bem, agora, podemos aproveitar para conhecer um pouco mais desse tema através do estudo, feito pela Pastora Genilma Boelher, sobre Gênesis.

Horizontina Canfield
Agente da Pastoral Escolar

 

Deus nos criou para "cultivar" e "guardar"

A bíblia inicia a sua narrativa, no livro de Gênesis, com duas verses da ação criadora de Deus. A primeira, a Palavra divina tudo cria, e Deus declara tudo que é bom (Gn 1 - 2,3). Homem e mulher, criados à imagem de Deus, é dado aos mesmos uma ordem: "enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre..." (Gn 1,28). A segunda versão deste mesmo feito, descrita em Gn 2,4s, diz que ainda não havia nada quando Deus criou o homem e a mulher. A ordem dada, nesta segunda versão da ação criadora de Deus ao ser humano, é que deveria "cultivar" e "guardar" o jardim.

A primeira versão foi escrita, no período da dominação do império babilônico. Tempo, exílio e devastação. Tempo de confronto de poderes divinos - a religião do povo exilado contra a religião do império babilônico. Visto desde esse tempo e esse contexto, homem e mulher devem encher a terra...sujeitá-la... domá-la. A segunda narrativa, mais antiga e mais modesta que a primeira, retrata outra relação do homem e da mulher com a terra. É uma narração descrita, no período da monarquia, em que os valores da teocracia que acompanharam a conquista da terra e a sobrevivência das tribos confrontavam-se com um novo modelo de governo e sociedade. A religião celebrada nos grupos de família, nesse período, era confrontada com a religião do templo e da centralização do poder na cidade.

A leitura que fazemos comumente destes textos coincide com uma percepção linear da história sagrada. Nem sempre observamos no texto as rupturas que retratam uma época e uma concepção dos fatos. Normalmente, essa leitura se adequa para manter o status do ser humano, na relação com tudo o que não é humano. Esse ser é o centro. Nesse caso, é mais que natural que o humano não seja tratado como propriedade privada e riqueza material a ser explorada, reforçando as estruturas de dominação da nossa sociedade.

No entanto, um olhar mais atento, a estas narrativas, poderá conduzir-nos a uma outra compreensão. Principalmente se nos despirmos da nossa vestidura de "superiores" ou "centrais". E se nos colocamos como mais um ser criado entre os outros, consciente de que todos são muito bons.

Estamos intrinsecamente vinculados a toda criação e dela necessitamos para sobreviver. Plantas e animais, água, terra e ar, podem perfeitamente existir sem o ser humano. Somos mais dependentes do que imaginamos. Não podemos viver sem a comunidade ecológica que sustenta a possibilidade da nossa existência. Não somos os donos da natureza, mas parte dela.

A) A nossa morada

A palavra ecologia, assim como a "economia" e o "ecumênico" possuem uma mesma raiz de origem grega, que é a palavra OIKOS, que significa casa. A ecologia é o estudo da casa, de como os seres vivos se relacionam entre si e com a sua casa - o planeta terra. Diferentemente das ciências como biologia, botânica, zoologia que estudam os seres vivos, ou da geologia, climatologia que estudam o meio ambiente, a ecologia estuda as relaçes e as implicaçes com os seres vivos e seu habitat, inspirando-se com freqüência na fenomenologia.

Parece-nos pertinente considerar a relação que há entre ecologia, economia e ecumênico. Se chegarmos a entender esses três eixos relacionais, seremos obrigados a repensar a nossa tradição teológica ocidental que nos colocou como centro do universo. Talvez tenhamos que nos perguntar: com que direitos somos os " donos" da natureza ou seus zeladores, quando a natureza cuida de seus próprios processos muito bem, e, na maioria dos casos, o faz melhor sem nós? Facilmente deixamo-nos seduzir pelo poder, pela ambição e vaidade e ultrapassamos nossos limites. Só nós podemos romper e distorcer o equilíbrio da natureza, impondo o preço desta distorção a seres humanos menos afortunados, bem como à comunidade não humana.

B) A economia consumista

Não é possível pensar numa ética ecológica sem repensar a ética individualista que orienta a sociedade de consumo. O consumismo é a válvula propulsora da política neoliberal que leva o individuo a consumir sempre mais, sem nunca ficar satisfeito, criando a compulsão do ter, consumir sem pensar no depois e sem pensar no outro. Nesse caso, os sujeitos econômicos são movidos pelo interesse e pelo lucro pessoal, sem se importarem com os outros, e menos ainda com o coletivo. A economia se orienta para o crescimento e, conseqüentemente, em destruir nosso próprio sistema de sustentação de vida.

O consumismo inconseqüente conduz-nos ao auto-extermínio, a médio e longo prazo. Resta-nos duas opçes: aprender a usar nossa própria inteligência, para tornar-nos servidores/as da sobrevivência e do cultivo da natureza ou perder nosso próprio sistema de sustentação da vida, em uma terra cada vez mais envenenada. As pessoas podem ser felizes com apenas o necessário para viver dignamente, para isso, precisamos renunciar à ética do ter, passando a adotar a ética do ser.

C) O mundo habitado

Nossa disposição ecumênica é um outro desafio para quem crê que a Vida - humana e não humana - deve ser guardada e cultivada. OIKOUMENE significa mundo habitado, mundo que abriga diversas culturas, diversas formas de organizar-se e de ser. A ética ecológica desafia-nos a converter nossas mentes uns aos outros, admitindo o diferente. Esta regra confronta mais uma vez os princípios da economia neoliberal que prope a globalização. Essa globalização integra tudo. A integração prope a homogeneização, totalmente intolerante à diversidade. A globalização é excludente das maiorias e destruidora da natureza.

Não basta repensar a relação de "homem" e "natureza". As estruturas de dominação e exploração social, que norteiam a dominação da natureza, impedem a preocupação pelo bem estar de todos.

Em outras palavras, é a aquisição de consciência plena de que "o nosso planeta, como uma parte do imenso cosmos, torna-nos consciente de que somos uns dos passageiros desta bola que se move no espaço e cujo destino ou não destino passa a ser um desafio para todos que, como as crianças, mantêm viva a capacidade de se deixar encantar e admirar".

"A ética, na sociedade, hoje, é utilitarista e antropocêntrica. O ser humano estima que tudo se ordena para ele. Considera-se senhor e patrão da natureza que está aí para satisfazer suas necessidades e realizar seus desejos. (...) Tal postura de base leva à violência e à dominação dos outros e da natureza".

A proposta ecumênica exige que sejamos condicionados/as por uma nova ordem, novos paradigmas que nos orientem, encontrando outra centralidade. A ética ecocêntrica deve visar ao equilíbrio da comunidade terrestre, deve desafiar-nos para uma ecojustiça no mundo habitado.

"Princípio norteador desta ética: bom é tudo o que conserva e promove todos os seus, especialmente os vivos, os mais fracos; mau é tudo o que prejudica, diminui e faz desaparecer os seres. Ética significa a ilimitada responsabilidade por tudo o que existe".¹

Viver sob a ética ecológica é rejeitar estar sobre os outros para estar junto com os outros. Nesse caso, o grande desafio é de convertermos nossas mentes uns aos outros.

Dialogar com a ordem ecológica é viver ecumenicamente, tendo como base o respeito à alteridade, na acolhida das diferenças, na solidariedade e na potenciação da singularidade."Desta forma, busca-se a reconstrução do mundo habitado - radicalmente uma nova ordem criadora - onde Deus/a reafirmará, em uma relação de igualdade, que tudo que é criado é muito bom".

Conclusão

Um olhar em retrospectiva à nossa inserção como parte da Igreja de Cristo, retratando nossa realidade, confronta-nos com os desvios feitos por influência da cultura e dos modelos políticos e econômicos que nos subjugam. Vivemos dentro de um sistema de mercado total, cuja globalização é tão absoluta, que não é possível fugir ou viver fora dele. Mas podemos rejeitar a sua imposição e construir um caminho alternativo resistindo à ética da morte e construindo uma nova ética firmada na justiça, na solidariedade, na defesa da vida incondicionalmente.

De fato, não há lugar, no globo terrestre, onde não existam sinais de influência destrutiva do ser humano sobre a vida não humana. Mesmo que o humano não tenha estado lá, a sua ação já foi levada pelos ventos, água, solo, aves, insetos e animais que carregam dentro de seus seres os efeitos envenenadores da rapina humana.
Assim, a natureza geme, caída, desfigurada pela ambição inconseqüente do ser humano. Refazer nossa relação com a natureza e uns com os outros é, portanto, um projeto e uma luta que são históricos de recriação. Que Deus nos ajude!

Revda. Genilma Boehler
UMESP-maio de 2002

Bibliografia:

1. RUETHER, Rosemary R., Sexismo e Religião, Sinodal, S. Leopoldo, 1993.

2. MO SUNG, Jung e SILVA, Josué Cândido da, Conversando sobre ética e sociedade, Vozes, Petrópolis, 1995.

3. RICHARD, Pablo e outros, Globalizar a esperança, Paulinas, S. Paulo, 1998.
¹ STRECK, Danilo. Op. cit., 1998, p. 37.

4. BOFF, Leonardo. Ecologia, mundialização, espiritualidade. São Paulo, 1996.