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John Wesley e o Movimento Metodista

por admin publicado 02/12/2015 15h56, última modificação 03/12/2015 14h30

 

Rev. Natanael Garcia Marques

"Se teu coração é como meu, dá-me tua mão".
John Wesley

Imagine um país numa profunda crise social, operários e mineiros trabalhando, 16 horas por dia, por um salário de fome.
Imagine milhares de crianças em idade escolar, trabalhando e morrendo de chagas e frio.
Imagine, por outro lado, uma casta de nobres a quem se outorgou o poder sobre os meios de produção e sobre seres humanos...e sobre todos esses, o poder de conceder e privar todos os seres viventes dos meios de subsistência: direito único do Rei...
Nesse contexto, é que surgiu o Movimento Metodista. Deu-se, na Inglaterra, no começo do século XVIII, quando um grupo de estudantes da Universidade de Oxford, sob a liderança dos irmãos e professores, John e Charles Wesley passaram a reunir-se para o cultivo da piedade cristã, através da leitura da Bíblia, da prática da oração, do jejum, da visita aos presos e aos enfermos.
João Wesley iniciou o Metodismo com o intuito de fortalecer e renovar o espírito cristão daqueles que comungavam junto à religião oficial Anglicana. Esse grupo, conhecido inicialmente como "Clube Santo", marcou sua identidade pelo método: dias fixos para praticar o jejum, hora certa para a leitura da Bíblia e oração, dia de visitar os presos, etc...Por causa dessa organização, esse grupo foi "apelidado" de Metodistas, quer dizer, aqueles que têm método.
Profundamente comprometido com os fundamentos da fé Cristã, John Wesley dedicou todos os dias de sua vida aos estudos da Bíblia, relacionando-os à sua própria experiência de Cristo. Por isso, sua teologia é uma experiência de Deus, antes de um "entendimento" deste. Para ele, o amor e a misericórdia são inseparáveis do viver santo.

"O evangelho de Cristo não conhece religião, que não seja religião social;
Não conhece santidade, que não seja santidade social.".
John Wesley

John Wesley tentou sempre vivenciar na prática o que dizia. Esse compromisso levou-o a renunciar aos poucos trocados que tinha para se aquecer no inverno, visando pagar uma professora que educava crianças de rua.
John Wesley registrou, em seu diário, na data de 24 de maio de 1738, a experiência religiosa de ter seu coração estranhamente aquecido, ou seja, uma manifestação emocional sinalizadora de sua comunhão com Deus. Essa data tem servido como referência para os metodistas, em geral, por demonstrar que a integração entre religiosidade individual e desenvolvimento de açes concretas, na sociedade, é entendida como a proposta de Deus para sua Igreja.
O envolvimento do metodismo com as questes relevantes da sociedade é uma marca que acompanha desde seu início. A humanização dos presídios, o combate à escravidão, a luta por salários dignos para os operários, o fornecimento de ensino básico para as crianças pobres, distinguiram os metodistas quando ocorreu a assim chamada Revolução Industrial, na Inglaterra.
Por ter surgido num ambiente universitário, o metodismo compreendeu cedo a importância de se promover a educação como instrumento para a melhoria da qualidade de vida, tanto do indivíduo quanto da sociedade. Assim é que, em 1748, John Wesley fundou a Kingswood School, que foi a primeira expressão formal metodista de seu cuidado para atender às necessidades educacionais das crianças.
Várias famílias que se instalaram, nas 13 Colônias da América do Norte, levaram os valores do metodismo para a terra que veio a ser os Estados Unidos da América. Quando esses conquistaram a sua independência política, acharam por bem se desvincular também da chefia religiosa exercida pelo monarca britânico. Assim, foi criada a Igreja Metodista Episcopal, em 1784. Na Inglaterra, somente após a morte de John Wesley, o metodismo se constituiu como denominação independente em relação à Igreja Anglicana.
Os primeiros metodistas que vieram ao Brasil foram os missionários norte-americanos Fountain Pitts, em 1835, e Justin Spaulding, em 1836. No entanto, essa primeira tentativa de estabelecimento em terras brasileiras não foi coroada de sucesso. Apenas, a partir de 1867, novos missionários foram enviados, marcando uma nova época e a certeza de que o metodismo veio para ficar. Escolas passaram a ser criadas. Primeiramente em Piracicaba - SP, depois em Juiz de Fora - MG, Rio de Janeiro - RJ, e em várias cidades do Rio Grande do Sul, pelo Brasil afora, enfim. A compreensão daqueles homens e mulheres era que, pela via da educação, o metodismo estaria contribuindo para a formação das elites brasileiras. Estas, por sua vez, estenderiam aquela influência a outras parcelas da sociedade.
Portanto, no dia 24 de maio, comemora-se o Dia do Metodismo Mundial em alusão à experiência religiosa de John Wesley que aconteceu na Rua Aldersgate, em Londres, quando ele sentiu o "coração estranhamente aquecido". Certamente a emoção fez parte dessa experiência, nesse momento, segundo ele, houve uma íntima ligação entre sua experiência religiosa e a sua doutrina.
Daquele tempo para cá, o Movimento (hoje Igreja) Metodista cresceu ao redor do mundo, sua doutrina está mais próxima do coração e sua ação nutre-se, na certeza da salvação. Sua mensagem vem da comunhão de todos os coraçes e vai, junto ao Evangelho, trabalhar para a construção do Reino de Deus.

"Se teu coração é como meu, dá-me tua mão".
John Wesley

Bibliografia:

REILY, Duncan Alexander. A influência do metodismo na reforma social na Inglaterra no século XVIII.. s.l.: Junta Geral de Ação Social da Ig. Metod., 1953. 18p., il.
______. Fundamentos doutrinários do metodismo brasileiro.
São Paulo: Exodus, 1997. 56p. (Vertentes).
______. Igreja metodista em 3 tempos. s.l.: COGEIME, s.d. 2p.
______. Metodismo brasileiro e wesleyano: Reflexes históricas sobre a autonomia.
S. Bernardo Campo: Metodista, 1981.
______. Momentos Decisivos do Metodismo, São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1991.