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Carta do Colégio Episcopal ao presidente Bush

por admin publicado 02/12/2015 15h56, última modificação 03/12/2015 14h30

"QUANDO A GUERRA COMEÇA DEUS É ESQUECIDO"

Esta é uma frase de John Wesley, fundador do Movimento Metodista na Inglaterra no Século XVIII.

Em 2003 comemoramos trezentos anos do nascimento de John Wesley.

Suas idéias sempre foram a favor da inclusão social, da justiça e da PAZ.

Para Wesley, a guerra era "uma prova inegável que a fundação de todas as coisas, civis ou religiosas, estavam totalmente distorcidas tanto no mundo cristão quanto no mundo pagão."

Wesley questionou se uma nação bélica poderia se auto-titular ainda como nação cristã. Para ele a atividade bélica corrompia as naçes cristãs e escondiam o evangelho.

Por isso afirmou: "quando a guerra começa, Deus é esquecido"

A Igreja Metodista no Brasil está contra a guerra e a favor da Paz.

Não reconhecemos nas idéias e nas açes de George W. Bush - presidente dos Estados Unidos da América - legitimidade. "Uma nação hegemônica não tem o direito de definir o que é o terror e o mal e assumir açes com conseqüências planetárias em função disso."

"O nosso compromisso com o Deus da paz, da verdade, da justiça e da dignidade e com a nossa tradição confessional leva-nos a rechaçar qualquer iniciativa do governo dos Estados Unidos e seus aliados de guerra contra o Iraque ou contra qualquer outra nação ou grupo qualificado como "maligno"."

Na UMESP - Universidade Metodista de São Paulo e nos Colégios Metodistas declaramos que estamos contra a guerra e a favor da Paz.

"Bem-aventurados os pacificadores" (Mt 5,9)

Pastoral Universitária e Escolar.

CARTA AO PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Ao PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
GEORGE W. BUSH

"Quando a guerra começa, Deus é esquecido"John Wesley (Fundador da Igreja Metodista, Inglaterra, Século XVIII)

Bem-aventurados os pacificadores
(Mt. 5.9)

Temos acompanhado os passos dados nos últimos meses pelo governo dos Estados Unidos em direção a uma intervenção armada contra o Iraque.

Cientes das razes apresentadas para tal ação, alarmados pelas possíveis conseqüências para o povo iraquiano e para o mundo, e impulsionados pelo nosso compromisso com o Deus do Universo, Senhor da Vida e Príncipe da Paz, não podemos deixar de nos manifestar diante deste cenário de morte que está se desenhando com cores mais fortes a cada dia.

Unimos nossas vozes ao sem-número de lideranças, organizaçes, grupos, indivíduos que, no mundo inteiro, clamam em favor da paz. Queremos deixar claro que este apelo pela paz não descarta uma visão crítica do atual governo do Iraque, nem mesmo da complexidade das relaçes globais hoje vigentes. O governo iraquiano precisa cumprir as resoluçes do Conselho de Segurança da Organização das Naçes Unidas (ONU) e a própria ONU precisa garantir sua vocação de construir a paz no mundo por meio da ação diplomática.

O que nos incomoda, contudo, é a posição assumida pelo governo dos Estados Unidos e seus aliados para a garantia da paz. A paz mundial é um imperativo. As muitas experiências de guerras ao longo da história do mundo desafiaram as naçes à busca de caminhos alternativos à intervenção armada e a fundação da ONU é um dos resultados mais significativos desse processo. A paz mundial urgente e necessária precisa ser promovida e realizada e isto somente pode acontecer por meio de um concerto de naçes, nunca por meio de uma política de hegemonia armamentista e anti-diplomática. A paz só será possível se todas as naçes se submeterem às instâncias internacionais de julgamento e de decisão.

Nesse sentido, um ataque dos Estados Unidos (e seus aliados) contra o Iraque como "ação preventiva", como "guerra justa", sem o respaldo da ONU, é contra a lei e a moral. Portanto, coloca em jogo princípios importantes do direito internacional, que nem sempre é fácil de ser desenvolvido, mas é, sem dúvida, a melhor opção para o planeta.

Além disso, construir a paz mundial hoje significa muito mais do que combater o terrorismo ou "o eixo do mal". Não queremos ser simplistas também indicando também que a paz é ausência de guerra. Uma nação hegemônica não tem o direito de definir o que é o terror e o mal e assumir açes com conseqüências planetárias em função disto. É mais do que urgente e necessário hoje que as lideranças políticas do mundo assumam que paz também se faz com a prática da justiça e da solidariedade, superando-se a exclusão social a que continentes inteiros vêm sendo sentenciados.

Para nós, cristãos, é obrigação espiritual, baseada no amor de Deus ao mundo, colocarmo-nos contra qualquer ação armada contra o Iraque. Como portadores da tradição metodista, evocamos nosso líder espiritual John Wesley, que, escrevia no século XVIII que a guerra é a prova da "degeneração das naçes", independentemente de serem elas "pagãs, maometanas ou cristãs".

Para Wesley, a guerra é um monstro; "enquanto este monstro continua fora de controle, onde ficam a razão, a virtude e a atitude humana? Elas não têm lugar." Wesley nos desafia ainda a olhar além, escrevendo que a existência da guerra em todas as naçes comprova a existência do pecado original, e alerta: a causa da guerra está nas ambiçes dos governantes, na corrupção dos seus ministros, nas opinies diferentes, no mero fato de ter poder ganhar ou que "uma nação quer algo que uma outra tem".

Portanto, o nosso compromisso com o Deus da paz, da verdade, da justiça e da dignidade e com a nossa tradição confessional leva-nos a rechaçar qualquer iniciativa do governo dos Estados Unidos e seus aliados de guerra contra o Iraque ou contra qualquer outra nação ou grupo qualificado como "maligno". Reafirmamos também a posição do governo do nosso País que tem levantado sua voz em favor da paz e da justiça e colocamo-nos à disposição para contribuir com as açes que venham promover a construção da paz no campo internacional e também entre o nosso povo.

Que Deus tenha misericórdia e oriente o governo dos Estados Unidos e o Conselho de Segurança na ONU em suas decises em favor da paz com justiça.

São Paulo, 17 de março de 2003

Bispo João Alves de Oliveira Filho
Presidente do Colégio Episcopal
Bispo Adriel de Souza Maia
Bispo Adolfo Evaristo de Souza
Bispo João Carlos Lopes
Bispo Josué Adam Lazier
Bispo Luiz Vergilio Batista da Rosa
Bispa Marisa Freitas Coutinho
Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann

C/c: Todo o povo chamado metodista
Irmãos e irmãs de outros credos
Presidente da República do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva
Secretário-Geral da ONU Koffi Anan
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