Família, que lugar é esse?
Os relacionamentos – manifestação divina no humano – são o fundamento básico da vida, afirma o reverendo Nelson Luiz Campos Leite (bispo honorário da Igreja Metodista). De fato, a dimensão relacional do ser humano, potencializada pela sua dimensão cultural, condiciona a espécie humana à total dependência do seu semelhante. Isto significa que ninguém se torna humano senão através do outro; portanto, é na vida em comunidade, no relacionamento interpessoal e na mútua influência entre as pessoas que se aprende a ser humano, que se produz a humanidade.
Humanidade capaz de modificar seu meio, suas condições de vida e a si própria; para a sua promoção ou degradação, a depender de elementos significativos, como circunstâncias, necessidades e interesses individuais e de grupos; sensibilidade, afetividade, confiança em si e nos outros; valores como justiça, paz, alegria; a graça divina, para a fé cristã em especial. Na rede de relacionamentos humanos há instâncias – dentre as quais, a família – nas quais a influência é (ou deveria ser) pensada e planejada; é o caso das instituições de ensino. E esse processo requer a consciência do caráter humano que se deseja ou que se deve formar e implica em escolhas (por vezes difíceis).
Ao longo da história humana, nas suas diferentes formas de organização, a família prevalece como instância primeira de acolhimento, convivência e formação humana. Pela proximidade dos seus membros, convivência permanente e estabelecimento de sólidos vínculos afetivos, a família pode ser, efetivamente, lugar de exercício da solidariedade, do respeito, da justiça, do amor – lugar de manifestação do Criador –, desde que se queira, isto é, desde que o desempenhar dos diferentes papéis na vida familiar seja norteado por este objetivo. Ao transcenderem o âmbito familiar, estes valores significam a possibilidade de se estabelecer relações justas e fraternas entre as pessoas e entre estas e os demais seres vivos, na promoção de um mundo que seja, de fato, “casa de todos”, onde a vida seja vivida com dignidade. Isto é mais do que suficiente para que as famílias se disponham a esse trabalho.
Conflitos, erros e acertos se fazem presentes no relacionamento familiar de forma mais ou menos contundente ou desafiadora para diferentes famílias, levando, em muitos casos, a frustrações e a um sentimento de impotência. Principalmente nesses momentos, é importante reconhecer que a família é lugar de exercício, de aprendizado, de aperfeiçoamento humano. Lugar de abrir-se para a manifestação do divino, na certeza de que o Deus de toda a graça restaurará, confirmará, fortalecerá e porá sobre firmes alicerces as famílias de boa vontade.
Shirlei Christine Freire de Matos Hussar
Professora de Ensino Religioso do Colégio Piracicabano
Ilustração da aluna Rafaela dos Santos Pelligrinotti, do 3º ano do Ensino Fundamental I.