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DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

“Dessarte, não pode haver judeu nem gre; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3.28)

 

Viver em sociedade compreende o exercício da alteridade e da empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro, pensar este outro como diferente de si mesmo e respeitar o que nos distingue. Ao fazermos isso, estabelecemos um tratado implícito de boa convivência, calcado no respeito mútuo. No entanto, não é isso que percebemos quando paramos para observar o modo como diferentes preconceitos estão entranhados em nós e se manifestam nas relações sociais.

A história da humanidade é marcada por momentos de barbárie e dor. Se olharmos em retrospectiva para o nosso passado, percebemos o quanto alguns povos foram subjugados, escravizados e ficaram marcados pelo estigma de inferioridade. O racismo é, assim, um dos maiores males de todos os tempos e, infelizmente, não ficou no passado. Ainda hoje, diariamente, percebemos que o racismo não só se manifesta como também estrutura muitas das relações de poder na sociedade contemporânea.

Para nos determos em um exemplo bastante próximo, relembremos a escravidão no Brasil, um sistema de relação social de produção que se estendeu desde o período colonial até pouco antes do fim do Império, com sua abolição em 1888. Como sabemos, os negros eram trazidos do continente africano para trabalharem forçadamente nas colônias. Muitas dessas pessoas morriam na travessia do Atlântico. Os que conseguiam chegar aqui entravam no sistema de exploração, caracterizado pela negação de qualquer direito e com severas punições para quem fugisse das normas estabelecidas. Além dos negros, há de se lembrar que os indígenas também foram escravizados no início do período colonial e muitas tribos foram dizimadas por colonizadores.

Hoje esse período escravista ficou no passado, mas suas consequências permanecem. Indígenas ainda são marginalizados e orbitam em torno de sua imagem estereótipos de um povo inferior, selvagem e que precisa ser domesticado. Os negros, por sua vez, ainda carregam as marcas da crueldade da escravidão e do total abandono e miséria a que foram expostos lo após a abolição da escravatura. Isso porque a eles não foram concedidas políticas públicas que garantissem seus direitos como cidadãos, a eles não foram dadas oportunidades para se estabelecerem. As marcas disso resultam nas diversas manifestações de racismo que presenciamos hoje.

É necessário, então, desconstruir esses preconceitos que sedimenta nossa formação. Preconceitos que são passados de geração a geração. O racismo estrutura as relações em nossa sociedade e impede que haja um tratamento igual para com todos. Essas histórias se repetem todos os dias, em diferentes lugares. Cabe a todos nós pensarmos, então, como combater esse racismo que já nos é inerente. É preciso que nos policiemos para descontruir o preconceito que habita dentro de nós e que sigamos em estado de vigilância para não deixarmos situações racistas se perpetuarem ou ocorrerem sem punição. É preciso que esse assunto seja discutido nas escolas, para que nossas crianças não cresçam alimentando esse ódio a quem é diferente. É preciso que nós, cristãos, paremos para pensar em nosso papel na sociedade e percebermos que é paradoxal pedirmos por amor ao próximo se continuamos reproduzindo preconceitos. 

Assim, a mensagem que deixo é a de que somos todos filhos de um mesmo Pai, que nos fez semelhantes e, ao mesmo tempo, diferentes entre si. São essas diferenças que nos constituem enquanto pessoas singulares, mas elas jamais devem servir para exclusão ou discriminação. É preciso reconhecer o outro como um irmão e nos libertarmos das amarras do racismo, que impossibilitam que vivamos em harmonia, amor e paz.

 

Pra. Angela Mar Melo Dias

Pastoral Escolar do Colégio Metodista Centenário